“Amar é a nossa missão”

Memória Iluminada
Edição 114 - Publicado em: 19/12/2018

O holandês Robert Happé, de 75 anos, nasceu em Amsterdã, em plena Segunda Guerra Mundial. Ainda bebê, perdeu os dois irmãos, o lar e a mãe, que desapareceu depois da tragédia provocada pelos bombardeios alemães. À época, seu pai já havia sido preso pelos soldados de Hitler.

Robert foi adotado por uma família. As dificuldades por que passou talvez expliquem sua busca incansável por respostas sobre o verdadeiro sentido da vida. “Desde o início, busquei a verdade sobre a vida e sobre mim mesmo; queria entender também por que as pessoas se matam e qual a causa de tanto sofrimento no mundo”, declara.

A procura começou aos 16 anos, quando, de mochila nas costas, o jovem Robert saiu pelo mundo, visitando diferentes países, culturas e povos. Em todos os lugares pelos quais passou – Nepal, Índia, Taiwan, Camboja (onde morou numa floresta durante três anos), EUA e países europeus e sul-americanos –, Robert diz ter encontrado amor. “Não existe um só povo que não seja capaz de amar”, confessa. Desde 1987, ele compartilha seu aprendizado em seminários pela Europa, África, Argentina e Brasil.

Em 1997, escreveu “Consciência é a Resposta”. No parágrafo final do prefácio, faz um alerta: “Ninguém tem a verdade, mas cada um de nós pode sintonizar-se com a própria verdade e conhecimento e expressá-los à sua maneira. Foi o que fiz e espero que cada um faça o mesmo”. O livro, que trata do despertar da consciência através da cura de nossos medos e da comunhão do amor, já está na décima terceira edição. O trabalho de Robert é independente, desvinculado de organizações religiosas, seitas ou qualquer outro grupo. Para ele, nossa principal tarefa aqui na Terra é nos tornarmos livres, expressando amor, luz e amizade nas relações cotidianas. “É essa a experiência humana”, afirma.

Para encerrarmos as comemorações dos 10 anos da Revista Ecológico, republicamos aqui trechos da entrevista exclusiva que Happé nos concedeu durante um seminário no Centro de Educação Espiritual que leva seu nome, em Araçoiaba da Serra (SP). O sorriso largo, o abraço afetuoso e um beijo na face são seus típicos gestos de acolhimento. É fácil perceber, logo de início, que a verdadeira expressão do amor, de que tanto fala, está presente ali, naquele senhor alto, de olhos azuis e cabelos grisalhos.

Confira:

A vida

“É uma jornada para descobrirmos quem realmente somos. Só assim encontraremos a verdadeira paz. Uma vez em paz, poderemos criar de acordo com nossa consciência criativa. Isso não é fácil e temos tentado por milhares de anos criar um mundo que seja próspero, onde possamos reconhecer uns aos outros, como divinos e iguais, compartilhando e cooperando. Fico me perguntando por que ainda não conseguimos fazer isso, se somos todos iguais. Queremos amar e ser amados, apesar disso não estar acontecendo. É difícil amar e ser honesto uns com os outros, trocando afeto de forma digna.”

As religiões

“Elas distorcem as mensagens dos mestres e fazem as pessoas viverem na escuridão. Buda e Jesus foram pessoas como nós, mas que compreenderam a importância do autoconhecimento. Jesus sabia que não devíamos escutar a força da economia que nos controla; mas sim, a força do coração. Ele sabia que o amor era o poder maior, por isso, disse: 'Amem-se uns aos outros'. Mas as pessoas só se sentem confortáveis adeptas às religiões, como se com isso se sentassem na primeira fila, mais perto do céu.”

A solidão

“Somos nervosos e fomos programados assim. Se nossas escolas nos ensinassem a ficar bem sozinhos, para termos mais confiança em nós mesmos, sabendo que estamos aqui na Terra para criar coisas bonitas, tudo seria diferente. Mas nos programaram só para aprender matemática, história, geografia, etc. Quando saímos da escola, não sabemos mais como criar. Se as crianças tentam criar, os professores as desencorajam, dizendo que elas precisam seguir o padrão de ensino deles. É um controle para que não acordemos. Está tudo errado. Passamos muitos anos na escola, aprendendo coisas que nunca iremos usar. Quanto à oportunidade de criar, essa é negada.”

A força criadora

“A degradação humana e ambiental vai acabar, porque a luz está se ampliando. Algumas pessoas usarão essa luz para transformar seus medos em amor. Outras ficarão com mais medo ainda e não suportarão a luz. Então, haverá a separação entre a luz e a escuridão. Nosso mundo vai se dividir em dois, ficando uma parte na terceira dimensão e outra, espiritual, na quarta dimensão, em níveis mais elevados.”

A luz versus a escuridão

“Quem controla coisas e pessoas está na escuridão. Quem é amoroso está na luz. Simples assim. Há também aquelas que têm luz, mas que estão servindo à escuridão, porque estão dominadas pelo medo.”

A missão

“Dar amor a todas as pessoas é a nossa maior missão. Dê o seu amor simplesmente pelo prazer em ter o outro aqui neste planeta. Mas faça isso com respeito. Há pessoas que não suportam receber muito amor de uma só vez. Elas podem se sufocar. Então, use sua sabedoria, dando apenas amor suficiente para a evolução do outro, para que ele consiga crescer. Dê amor sem a expectativa de receber. Quem precisa receber é quem está doente. Se você pode dar é porque tem e está saudável.”

O medo

“Existem pessoas que têm tanto medo, que não conseguem amor e energia suficientes. Essas pessoas acabam roubando nossa energia. Precisamos perdoá-las, perguntando o que querem, do que precisam. Mas nunca permitindo que sejam desonestas e joguem conosco. Se nos comunicamos e nos expressamos dizendo do que gostamos e o que sentimos no coração, as pessoas percebem essa clareza e acabam nos dando amor de volta. Todo mundo tem amor no coração. Mas se existe muito medo, ele não funciona. Todas as pessoas com as quais nos relacionamos são uma grande oportunidade para expressarmos amor. Se a pessoa com a qual você se relaciona não consegue expressá-lo, ajude-a, dando seu amor a ela.”

“Quando criança, temos que fazer o que os outros dizem para não sermos punidos, adquirindo todos os medos: medo da morte, da solidão, do futuro, medo de criar. Totalmente controlados por dogmas e pensamentos falsos, acabamos por expressar medo, em vez de mostrar ao mundo quem realmente somos.”

O amor

“Amar sem controle. Quando você ama de verdade não tem necessidade de saber o tempo todo onde a pessoa amada está e nem quer controlá-la 24 horas. O que você quer é que ela esteja feliz. Quando as pessoas se amam realmente, o respeito existe e elas sempre voltam umas para as outras. Se ao voltar para casa encontro um amigo de infância, decido ficar um tempo com ele, e digo à pessoa amada que vou me atrasar, ela compreende e não se aborrece. Fica feliz por mim. No amor verdadeiro, há sempre alegria na felicidade do outro.”

O consumismo

“É uma doença criada pela economia, que diz: 'Você só vive quando compra'. Os shoppings são a nova igreja. Neles as pessoas se deslocam para adorar e comprar coisas, gastando sem poder. No fim do mês, a conta chega e elas não têm dinheiro para pagá-la. Então, voltam à igreja e compram mais.”

A intuição

“Através da intuição seguimos a direção do nosso espírito. Se você tiver um canal aberto com a sua intuição, ela o levará às coisas certas. Quem usa a intuição tem confiança em si mesmo. Confiante do poder do amor em seu coração e na sua ligação com o espírito, você tem a resposta para tudo e, automaticamente, conecta e expressa a sua verdade. Essa conexão com o coração e o espírito faz com que toda a prosperidade venha ao seu encontro, porque você está sendo criador da sua própria vida.”

O dinheiro

“No nosso planeta, o poder está no dinheiro. Quanto mais dinheiro, mais poder. Isso é uma grande ilusão. Porque um dia, quando todo o sistema entrar em colapso, quem tem apenas dinheiro ficará sem nada, de uma hora para outra. Essa crise mundial financeira que vivenciamos é uma prova disso.”

As leis do carma

“O que você atrai para a sua vida é consequência da sua criação. Quando você encontra uma pessoa que é má para você, compreenda e não brigue com ela. Pense: 'O que eu fiz e preciso mudar na minha consciência para não atrair mais esse tipo de experiência?'. Quando pensamos assim, partimos para uma consciência mais tolerante e amorosa.”

A mudança

“Tudo o que nos acontece hoje se relaciona ao nosso passado. O que foi bom no passado é bom agora, o que foi ruim, também é ruim no presente. Devemos mudar com as nossas experiências. Todo encontro é um encontro conosco. Quando você se depara com alguma coisa que não gosta, esse é o momento de se perguntar por que não gosta. O que há de dificuldade em outras pessoas é o espelho das nossas próprias inabilidades, da falta do nosso conhecimento interior. Entendendo isso, responderemos de forma diferente à vida, reconhecendo o que é verdadeiro e o que não é. Precisamos viver com mais responsabilidade e honestidade, para com o próximo e para com nós mesmos, descobrindo que somos divinos. Isso requer atenção e treino.”

Os conflitos

“Hoje estamos no mundo que merecemos. Nossa consciência nos leva para níveis onde nos sentimos confortáveis. Nós ainda não aprendemos o: ‘Amai-vos uns aos outros’. Aprendemos a cuidar da nossa família e a pensar que o resto do mundo não é tão importante. Mas somos uma só família. O caos em que o planeta se encontra reflete nosso desinteresse pela melhora e é o espelho da falta do amor. Mas esse mesmo caos pode estimular as pessoas à mudança. É um grande empurrão para a humanidade avançar.”

O Brasil e a esperança

“Na Europa, as pessoas são muito civilizadas e tudo é racional. Os brasileiros expressam mais seus sentimentos, mas também usam a razão. A combinação entre a racionalidade e o sentimento é a formula para despertarmos nossa consciência amorosa. O Brasil é a última esperança. Aqui, a maioria das pessoas tem muita conexão com os sentimentos. Estão mais conectadas com o lado espiritual. Além disso, temos muito cristal no Brasil, que atrai luz. No futuro, muita gente virá para cá, porque teremos alimento e amor em abundância.”

O futuro

“Acredite em si mesmo. A pobreza está dentro da nossa consciência. Quando encontrarmos nossa riqueza interior, deixaremos de ser pobres. É preciso aprender que todo trabalho é um servir ao outro em primeiro lugar. Somos seres criadores e chegamos até aqui para criarmos um mundo melhor.”


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