Puxa vida! É preciso muitas primaveras pra gente manter a esperança de que as chuvas cheguem logo sobre o país em chamas. O Ibama anuncia mais um desmatamento recorde na Amazônia, a fumaça proveniente da biodiversidade sendo queimada viva chega a impedir o funcionamento de vários aeroportos do Brasil... E a presidente Dilma, insensível, não diz nada sobre isso. Prefere falar, como no seu último discurso patriótico à nação, de economia, economia e economia, como se todos os seres vivos que habitam o planeta fossem apenas números, planilhas, juros. Parece que só existe a raiz eco (do grego ‘oikos’, que significa casa) + nomia (que significa ‘administração da casa’). E nunca eco + logia, que significa estudar, cuidar, preservar e salvar o único planeta que nos sustenta incondicionalmente. Nem ao inaugurar a Usina de Jeceaba, do Grupo Vallourec - Sumitomo, construída dentro de uma preocupação socioambiental incomum na história do aço brasileiro, a presidente, mais o ministro Fernando Pimentel (que tanto fez pelo verde de Belo Horizonte) e todas as demais autoridades políticas seguintes lembraram disso em seus discursos. E exemplos dessa insensibilidade política ainda para a questão ambiental, a causa que mais deveria preocupar os políticos e governantes e pode significar a salvação do planeta, não faltam. Estão tanto no macro, no desmatamento cruel e suicida da Amazônia ainda permitido pelo governo brasileiro. Como no micro, nas obras como o Bulevar do Arrudas, na capital dos mineiros, que deveriam ser verdes.
Tal como na primeira fase, ao longo da Praça da Estação, a prefeitura e as empreiteiras capricharam no asfalto, cimento e concreto. Lembraram dos carros e esqueceram das árvores, das plantas ornamentais, das trepadeiras que deveriam dar sombra, beleza e temperatura amena aos pedestres. A maioria das mudas morreu e continua lá, sem substituição. Um fato que se repete agora ao longo do Arrudas recém-coberto, no Barro Preto: dezenas de palmeiras caríssimas plantadas com o dinheiro público também estão morrendo por falta de uma simples rega, coisa básica que qualquer ‘capiau’ sem estudo sabe: não se planta uma muda de árvore sem molhá-la, tal como não se põe um filho no mundo sem lhe dar o seio, uma mamadeira, uma caneca de leite. E amor.
Nem tudo, porém, está perdido nesta nova primavera que se anuncia. E as mesmas Beagá e Minas que não plantam nem molham as árvores em nossas vias públicas, e esta é a democracia da vida, também participam dessa esperança. Márcio Lacerda continua revelando, nesta edição, quais os horizontes que podem ser mais belos e verdes. E Anastasia, sob o reconhecimento internacional da Unesco, irá inaugurar, bem no nosso nariz geográfico, a “Cidade das Águas”, a segunda em status de conhecimento científico e humano mais bem-vinda e importante do planeta. Sem falar, você também vai ler, do esforço heróico e exemplar de algumas siderúrgicas e guseiras mineiras que se juntaram ao Ministério Público contra a máfia do carvão que continua queimando, devastando e degradando impunemente o país.
No mais é torcer para a chegada logo das chuvas. Que elas lavem e salvem o que ainda nos resta de natureza, iluminando o coração duro e o espírito fugidio de quem nos governa nesta caminhada global, rumo ao ‘planeta dos macacos’, que somos todos nós, e podemos protagonizar o mesmo script do filme.
Boa leitura!
Até a Lua Cheia de Outubro!