O pontapé foi o "BH Metas e Resultados". Um programa e um compromisso, como o nome diz, de ações e objetivos possíveis de serem alcançados dentro de um novo modelo de gestão pública para a capital mineira. Lançado no início de sua administração, o planejamento do prefeito Marcio Lacerda foi mais direto e empresarial, algo inédito na história política dos belo-horizontinos, acostumados com administrações personalistas e sem continuidade. "Trata-se de um planejamento estratégico voltado para a Belo Horizonte que queremos até 2030. Isso não é tarefa fácil e exige o comprometimento de todos: do governo, da sociedade organizada e da população", conclamou Lacerda.
Delírio de um governante que apareceu de repente e foi eleito de maneira surpreendente, fruto de uma aliança político-partidária também impensável? Não para o administrador que decidiu encarar o desafio de frente. "Para cada uma das 12 áreas de resultados, consideradas estratégicas para o desenvolvimento da nossa capital, nós definimos 40 projetos sustentadores. São ações prioritárias, que vão mobilizar recursos financeiros e humanos para que possamos alcançar as transformações que Belo Horizonte deseja e precisa", assegurou.
O prefeito foi além. "O que estamos promovendo é uma nova maneira de se relacionar com a população, compartilhando decisões e conquistas alcançadas, oferecendo a cada cidadão o direito de acompanhar tudo o que é feito por esta administração que ele ajudou a eleger."
Em 2010, Marcio Lacerda lançou a segunda versão, a síntese de outro documento, agora pragmático: o "Plano Estratégico de BH 2030", intitulado "A Cidade que Queremos". Em sua mensagem, ele não desviou um centímetro de seu sonho e falas iniciais. Renovou o enfrentamento: "Um dos maiores desafios dos governos democráticos da atualidade, especialmente nas grandes cidades, é a compatibilização de cinco variáveis que se entrelaçam: a ampliação do diálogo permanente com a sociedade e seus representantes. O atendimento das demandas do dia a dia. As limitações orçamentárias. Os impactos ambientais. E outros desafios de longo prazo que exigem grande capacidade de planejamento, para além dos prazos definidos pelo mandato eletivo".
Historiou o tamanho da realidade: "Nossa Belo Horizonte, planejada para ter apenas 200 mil habitantes, no final do século 19, paga até hoje um alto preço por escolhas feitas ao longo do tempo. E chega ao início do século 21 com quase dois milhões e meio de pessoas, rodeada por uma região metropolitana que já atinge mais de cinco milhões de habitantes, com uma demanda urbana e social crescente e complexa".
Não poupou críticas: "O planejamento inicial foi totalmente atropelado em pouco mais de um século de existência de nossa cidade, especialmente nas décadas de 1970 e 1980, quando houve uma explosão populacional, gerando um conjunto de carências e demandas urbanas e sociais. A evolução nas décadas de 1960 a 1980 exemplifica isso. Nos anos 60, Belo Horizonte tinha uma população de 693 mil pessoas. Vinte anos depois, mesmo abençoados pela qualidade de sua gente, sua história e tradições, já éramos um milhão e setecentas mil pessoas vivendo na cidade", lembrou Lacerda.
Esperança programada - Em resposta aos críticos, o prefeito-empresário - já cotado e disputado politicamente para se candidatar às eleições do ano que vem -, diz que não abre mão de suas convicções. Afirma que seu programa de governo em curso não é peça de ficção eleitoral. Organizado em 12 áreas temáticas e 176 propostas discutidas com a população (por meio do Orçamento Participativo, debates na Câmara, redes sociais, etc.), ele ressalta que seu plano estratégico possibilitou à prefeitura dar maior eficácia à gestão pública. Ou seja, como se a cidade fosse uma empresa: estabeleceu metas e resultados, tendo como norte a busca da tão desgastada (mas ainda possível, é o que nos resta acreditar e torcer) justiça social e a melhoria dos serviços prestados aos cidadãos.
É ele quem afirma textualmente isso, assinando seu nome no prefácio do plano, como uma inovação na arte de fazer política: "Todos os 40 projetos sustentadores deste planejamento podem ser acompanhados pela população por meio da internet, o que garante mais transparência à gestão dos recursos públicos".
É ele também quem garante à população e seus representantes políticos, sociais e institucionais: "Até 2030, Belo Horizonte ainda pode ser uma cidade de oportunidades, sustentável e com qualidade de vida. Ela merece".
Como isso, de fato, pode acontecer? O planejamento que Lacerda carrega no computador, na mente, no coração, no seu destino político e está disponibilizado publicamente na internet consiste em responder às cinco emblemáticas questões: Onde estamos e aonde poderemos chegar? Aonde queremos chegar? Como chegaremos lá? Por onde começar?
PLANO DEMOCRÁTICO
O processo de construção deste plano foi desenvolvido em duas fases ao longo de 2009 e 2010. Primeiramente uma pesquisa qualitativa envolveu atores internos e externos à prefeitura. Além do prefeito, foram entrevistados secretários municipais e estaduais, empresários, acadêmicos, representantes de entidades de classe e especialistas com notório saber sobre Belo Horizonte. Ao disponibilizar o texto em seu site, a prefeitura abriu a consulta pública. Convidou indistintamente a população para descrever como queria e seria a sua Belo Horizonte, sustentável ou não, em 2030. Essa visão compartilhada de futuro veio na forma de 2.300 sugestões, incorporadas no planejamento macro.
O resultado desta etapa forneceu valiosas contribuições para a reflexão estratégica. Permitiu a identificação de temas críticos para o futuro da capital dos mineiros.
AS QUATRO BEAGÁS DO FUTURO
Conheça quais são os horizontes possíveis que a população da capital mineira poderá ver construídos até 2030. Confira na Revista ECOLÓGICO, cartas sobre quatro diferentes BHs.