Pata-de-vaca

Marcos Guião | redacao@revistaecologico.com.br
Natureza Medicinal
Edição 137 - Publicado em: 27/12/2021

O sol tava se escorrendo pra trás da Serra do Encantado, ao mesmo tempo em que o amigo Bento caminhava mais eu, na tentativa de esbarrar numa espécie medicinal inquilina daquela região de mata, demasiadamente diferençada dos baixios do cerrado desafogado de minha região. Meus olhos buscavam se firmar na tanteira de novidades, admirando a belezura das árvores caçando altura muita, se ajeitando garradas umas nas outras, se entrelaçando num cipoal desmedido e fechado, estorvando qualquer tentativa dum vivente mais afoito se adentrar naquele fecho. As floradas iam se revelando em cores diferençadas, com barulhos e piados estrangeiros me entrando pelos ouvidos, causando estranheza e encantamento.

A prosa fluía solta e desafogada em assuntos fartos de interesses comuns, pois Bento é um biólogo experiente apaixonado pelas medicinais e já nos aposentados da vida. De repentemente, ele empacou e apontou no longe uma pequena árvore pontiada de pintas brancas se mostrando apartada da mata, mais na berola do barranco e daí deu-se pressa, pra no rápido chegamos até a afamada pata-de-vaca (Bauhinia forficata). No encanto, botei reparo na árvore de folhas pontiagudas, mais parecida com uma pisada de bode que de vaca. As flores são modestas e discretas, sem a belezura de outras plantas do gênero Bauhinia, que se assemelham mais à formosura das orquídeas, tamanha beleza.

Pata-de-vaca,  Bauhinia forficata
Pata-de-vaca, Bauhinia forficata


No açodamento da descoberta, fui logo metendo a mão e num gastou muito pra descobrir que ela tem espinhos. Mas tem espinho com força! Com a mão prejudicada e sangrando, me sentei no barranco procurando encurtar o estrago e diminuir a dor. Bento se acercou zeloso e com muito cuidado deu de tirar os espinhos com auxílio de uma pinça de seu canivete. Ufh! Enquanto o alívio foi-se instalando, ele explicou que essa era uma planta pioneira, que chega primeiro no lugar que tá no limpo e muito exposto ao sol. Disse ainda que as abelhas gostam de visitar suas flores e que as outras espécies desse gênero num têm muita valência no uso medicinal. Agradecido, lavei a mão na água da garrafinha mineral e fiquei apartado dando reparo nele colher as folhas, utilizando luvas de couro e uma tesoura de poda. Quem mandou cê besta e ir logo metendo a mão!

Bento me contou ainda que a ação dominante dessa planta é nos rins, enxugando os fluidos corporais com muita utilidade pras mulheres que têm retenção de líquidos no período pré-menstrual, diminuindo o dolorimento nos seios, a pressão na cabeça e a irritabilidade. Além disso, ela induz o pâncreas a produzir mais insulina, normalizando os níveis de glicose circulante no sangue nas pessoas que sofrem com o diabetes tipo 2, aquele que o cabra não toma insulina. Curioso é que ela não altera os níveis da glicose de gente que não é diabético...
Avexado, demos retorno pra casa com a vivência de que a pata-de-vaca de ação medicinal tem espinhos. Inté a próxima lua!


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