Filho do ex-ministro da Cultura e embaixador José Aparecido de Oliveira, um dos políticos mais queridos e respeitados da história brasileira, o atual prefeito de Conceição do Mato Dentro, José Fernando Aparecido de Oliveira, confirma o tripé que todo político ou governante moderno deveria abraçar como prioridade o desafio das mudanças climáticas que ameaçam a prosperidade da humanidade: o desenvolvimento sustentável, a defesa do meio ambiente e o amor à natureza, que ele declara publicamente e sem pudor.
Aos 47 anos, taurino, católico e torcedor do América, o bacharel em Direito pela PUC-Minas está, não à toa, no quarto mandato à frente da prefeitura da cidade onde nasceram seus pai e avós e ele ajudou a transformar na hoje capital mineira do ecoturismo, como ativista ambiental desde a adolescência. Agora, seu desafio é zelar vigilante, e de maneira parceira, pela segurança e sustentabilidade da atividade mineradora, leia-se o Projeto “Minas-Rio”, da Anglo American, que chegou a Conceição há 10 anos e tem mais de meio século de vida útil pela frente. Ou seja, diversificar a economia local e regional para que a exaustão das minas de ferro, extensiva também aos municípios vizinhos de Dom Joaquim e Alvorada de Minas, não prejudique o futuro das novas gerações nem a geografia estupenda e única da Serra do Cipó, integrante da Cordilheira do Espinhaço, preservada como “Reserva Mundial da Biosfera”. É o que discutimos nesta entrevista exclusiva com Zé Fernando, para os íntimos, que são toda a população de Conceição. Acompanhe!
REVISTA ECOLÓGICO - Você começou na vida pública como ambientalista, numa época em que não se falava disso. Conte-nos um pouco sobre esse período.
JOSÉ FERNANDO - Meu envolvimento na vida pública começou com a luta pela implementação do Parque do Tabuleiro no município. Aos 16 anos de idade, participei da organização da “1ª Semana Ecológica” de Conceição do Mato Dentro, que tinha essa finalidade. Fui fundador da SAT, Sociedade dos Amigos do Tabuleiro, que também propunha a criação do parque. Hoje ele já está criado e consolidado. É uma referência para outros municípios em conservação.
ECOLÓGICO – Você também se envolveu no movimento para o reconhecimento do Espinhaço como reserva da biosfera?
JOSÉ FERNANDO - Sim. Eu já era prefeito de Conceição no meu primeiro mandato (2001-2004), quando um grupo de pessoas articuladas pelo próprio município montou esse projeto. Ele foi levado ao ex-ministro José Carlos Carvalho, que era o secretário estadual de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Semad) na época e apoiou imediatamente a iniciativa. Ele abraçou o projeto e contratou os estudos necessários para a apresentação posterior à Unesco. Depois tivemos de convencer o então chanceler Celso Amorim, para que ele apresentasse, em nome do Brasil, a candidatura da Cordilheira do Espinhaço ao título de Reserva Mundial da Biosfera, uma exigência da organização para o reconhecimento público de bens históricos e naturais. E assim foi feito. Para a nossa grata surpresa, esse nosso sonho possível foi aprovado, com louvor, como a sétima Unidade de Conservação (UC) desta natureza no país. Ela começa na Serra de Ouro Preto e termina no Parque Nacional das Sempre-Vivas, até a divisa com a Bahia, perfazendo uma área de proteção e corredores ecológicos. Do ponto de vista ambiental, a Cordilheira do Espinhaço é a caixa d’água natural do país, onde também se encontra o nosso quadrilátero ferrífero.
“Minério não dá duas safras, como diziam Arthur Bernardes”
ECOLÓGICO – Como a madame Danielle Mitterrand, esposa do ex-presidente da França François Mitterrand, entrou nessa história?
JOSÉ FERNANDO - Danielle foi a grande embaixatriz desse projeto junto à Unesco. Ela esteve em Conceição, onde visitou e se encantou, por duas vezes, com a Cachoeira do Tabuleiro, centro da reserva que dá nome ao nosso parque municipal. Além de maior cachoeira de Minas e a terceira do Brasil, ela é considerada a mais bonita do país pelo Guia Quatro Rodas. E ainda tem, com os seus rochedos, a forma de um coração onde, podemos dizer, pulsa toda a esperança da reserva em conservação ambiental e desfrute público, através do ecoturismo.
O SÍMBOLO natural de Conceição, em forma de coração. E o coração artístico criado por Ziraldo, amigo da família, para o Projeto Minas-Rio
ECOLÓGICO – Qual a sua relação familiar com Conceição?
JOSÉ FERNANDO - É ancestral, por causa dos meus pais, avós, bisavós. Eu só vim morar em Conceição depois de formado. Inclusive, quando me elegi prefeito ainda não tinha concluído o Curso de Direito. Era muito jovem, 26 anos. E no primeiro ano de mandato ainda tive que frequentar as aulas na PUC-MG (Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais). Depois me pós-graduei em Direito Ambiental e Direito Minerário na mesma universidade.
ECOLÓGICO – Você deixou a prefeitura em meados do seu segundo mandato, para concorrer a uma vaga na Câmara Federal e, depois, ao cargo de governador de Minas. Como foi isso?
JOSÉ FERNANDO - Fui reeleito prefeito em 2004 e deixei Conceição para me candidatar a deputado federal pelo Partido Verde, nas eleições de 2006. Depois me elegi e fui candidato a governador também pelo PV, em 2010. Apoiei e estava junto com a Marina Silva, em sua candidatura presidencial que tinha como base a questão da sustentabilidade. Foi isso que me motivou.
ECOLÓGICO – Como foi a experiência?
JOSÉ FERNANDO - Para aquela época, tínhamos uma proposta inovadora e uma estrutura de apoio nos estados. Eu concorri ao governo em Minas Gerais. Fernando Gabeira, no Rio de Janeiro. E Fábio Feldman, em São Paulo. A própria Marina nos definia como o triângulo das bermudas, unindo os três estados vizinhos (Minas, Rio e SP). Ela teve uma votação surpreendente, começou com 2% e terminou com 20%, tendo vencido em BH e Vitória.
ECOLÓGICO – Qual era a sua proposta para Minas?
JOSÉ FERNANDO - A nossa bandeira principal estava ligada à questão do minério, que dá o nome ao próprio estado, que é a base da nossa cultura e nossa economia. Metade do patrimônio histórico brasileiro tombado pelo IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) hoje no país é mineiro, graças aos ciclos do ouro e do diamante. Esse foi o nosso legado.
ECOLÓGICO - E qual será o legado do minério de ferro?
JOSÉ FERNANDO - Eu defendo e luto para que seja a diversificação econômica. Temos que tê-la como meta, aliada à sustentabilidade e segurança. Não podemos mais discutir a mineração sem ter este tripé no seu DNA. Nossa principal atividade econômica, não podemos esquecer, é finita e inclui a segurança, sobretudo depois dos acidentes de Mariana e Brumadinho, que mudaram a história da mineração.
A sustentabilidade, como bem diz nosso querido Marco Antônio Lage, prefeito de Itabira e diretor de Meio Ambiente da AMIG (Associação dos Municípios Mineradores de Minas Gerais e do Brasil), não é mais uma causa. É uma meta a ser perseguida e atingida. Mesmo porque o planeta tem um prazo de validade, do ponto de vista da natureza, também finita e movimentam pessoas, equipamentos de última geração e circulação de dinheiro no mundo. Mas, desde que haja um cenário natural deslumbrante e infraestrutura receptiva local para ele acontecer.
ECOLÓGICO – Preservar a natureza para ter ganhos financeiros, e não destruí-la é o que você defende como alternativa ecologicamente possível a dependência única da mineração?
JOSÉ FERNANDO – Não só eu acredito, como defendo. São os números que nos fazem ver e confirmam essa outra nossa vocação pelo ecoturismo, além do minério. Trouxemos agora para acontecer em Conceição, em pleno chuvoso último mês de 2021, um dos maiores e mais concorridos eventos de mountain bike do mundo. Tratou-se de mais uma edição do “Brasil Ride Espinhaço” que reuniu nada menos que a presença de mais de 1.000 atletas vindos de sete países diferentes, incluindo a vinda do atual campeão mundial, Tiago Ferreira.
Trata-se da maior prova das Américas, com direito à pontuação nas Olimpíadas de Paris. Nós vamos sediá-la novamente em abril próximo, desta vez com sol. Já são esperados mais de 2.500 participantes, os melhores do mundo, pedalando na beleza do Espinhaço, a partir de Conceição.
Sabe qual o resultado econômico, financeiro, ambiental, turístico e social que tivemos? Juntas, a rede hoteleira não só de Conceição, mas de toda a Serra do Cipó ao nosso redor registraram uma ocupação de 100%. Isso nunca tinha acontecido antes. É a prova que estamos no caminho certo, ecológico e salvador da economia verde.
José Fernando ingressou na carreira política em 2001, sendo eleito o prefeito mais jovem com apenas 26 anos de Conceição do Mato Dentro. Participou da fundação do Conselho Municipal de Defesa do Meio Ambiente (Codema) e da ONG Sociedade dos Amigos do Tabuleiro (SAT), além de ter liderado o movimento pela criação do Parque Municipal do Tabuleiro, um dos maiores e mais preservados de Minas.
Como presidente da Associação Microrregional do Médio Espinhaço, tornou-se o idealizador e articulador político da criação da Reserva Mundial da Biosfera da Serra do Espinhaço, reconhecida assim, desde 2005, pela Unesco.
Nas eleições de 2006, com apenas 32 anos de idade, foi eleito deputado federal pela primeira vez. Fundou e foi o primeiro diretor de Meio Ambiente da Associação dos Municípios Mineradores de Minas e do Brasil (AMIG), voltando ao cargo no biênio 2019/2020.
Ainda na câmara federal, elegeu-se presidente estadual do Partido Verde, onde ficou até 2009, em prol da ampliação e o fortalecimento da legenda. Candidatou-se depois ao governo de Minas em 2010, pelo Partido Verde, ficando em terceiro lugar.
Sua liderança política foi fundamental para a consolidação, pelo governo federal, em 2017, do novo marco regulatório do setor minerário e para as novas taxações da extração do minério de ferro em Minas e no Brasil. Foi presidente da Associação das Cidades Históricas de Minas por dois mandatos consecutivos, 2016-2018 e 2018-2020. E assumiu, em 2021, a presidência da Associação das Cidades Mineradoras de Minas Gerais e do Brasil (AMIG)
Em 2016 elegeu-se novamente prefeito de Conceição cumprindo seu terceiro mandato e agora, o quarto, desde 2020. Nesta última eleição ele teve aprovação histórica e recorde da população: 88,72% dos votos.
“O verso mais puro é o que transborda do universo e cabe inteiro na palavra amor”
Hiram Firmino
A palavra amor sempre teve um espaço, sem medo, no coração, boca e alma de José Fernando. No início deste ano, durante live promovida em BH pelo Ibram, com vários CEOs da mineração brasileira, ele foi o último a falar. Recitou um poema pouquíssimo conhecido que Carlos Drummond de Andrade escreveu e lhe dedicou, então recém-nascido, em 18 de maio de 1974: ´O verso mais puro é o que transborda do universo e cabe inteiro na palavra amor´. E completou: “É este amor que temos de ter por Minas Gerais, pelas nossas cidades, históricas e mineradoras”.
Uma nova oportunidade aconteceu na entrada da primavera de 2021. Foi também na capital mineira, durante a live de lançamento do livro “Biodiversidade no Espinhaço Meridional, Biomas e Áreas Protegidas”, produzido pela Anglo American, onde ele voltou a falar de amor duas vezes:
“A presença desta empresa em nossa região se dá naquilo que eu considero o mais importante, que é o amor. Esse livro representa o amor que vocês têm e demonstram pelo nosso município e os territórios onde atuam”.
Resultado contagiante: dois executivos participantes, citando o mesmo amor à natureza que o mestre Hugo Werneck sempre pregava, também incluíram esse sentimento em suas falas.
Hugo, José Fernando e os Beatles, que nunca saem de moda, parece terem razão no mundo atual tão econômico, sem calor humano e competitivo: “All you need is love”. O amor é tudo o que nós e o planeta precisamos.