'Nós somos a geração que irá restaurar o mundo'

Até ganhar, publicamente, a benção da ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, durante a premiação, a ambientalista-mirim Júlia Bonitese, de apenas 11 anos, já era considerada o novo rosto do ativismo infanto-juvenil do Brasil. Natural de BH, e já reconhecida pela Organização das Nações Unidas (ONU), desde os 8 anos ela vem conquistando o mundo com seus discursos adultos e responsáveis em defesa da vida. Mas sem deixar de ser criança.

Entre bonecas de diversas partes do mundo, caixas de lápis coloridos e livros escolares e com o tema de proteção à natureza, Júlia recebeu a equipe da Revista Ecológico em sua casa, no bairro Gutierrez. Ela, sua irmã Mariana e a mãe, Karina Bonitese, ficaram muito orgulhosas ao saber da indicação de Júlia ao Prêmio Hugo Werneck, onde venceu na Categoria “Melhor Exemplo de Iniciativa Individual” pelo seu ativismo e aposta na educação ambiental:

“Isso mostra que meu projeto está valendo a pena e que cada vez mais pessoas vão ser conscientizadas, principalmente as crianças, porque nós somos a ‘geração-restauração’” - disse ela, com uma naturalidade cativante.

“É algo natural dela. Se eu não acreditar na minha filha, quem mais vai acreditar?”- pergunta a mãe, a arquiteta Karina Bonitese, professora do Departamento de Ciência e Tecnologia Ambiental no CEFET-MG que mesmo com todas as suas atividades, atua em apoio à filha. Júlia participa de inúmeras entrevistas, audiências públicas, palestras e em ações pelo país, sem deixar, entretanto, de priorizar seus estudos.

Ela tornou-se embaixadora da Justiça Climática do Brasil no movimento Plant-for-the-Planet , que já plantou 14,5 bilhões de árvores ao redor do mundo. “Pare de falar e comece a plantar” é lema do programa de combate ao aquecimento global criado pelo garoto alemão Felix Finkbeiner, então com 9 anos. Em uma dessas ações de reflorestamento na capital mineira, Júlia ficou conhecendo a ambientalista e deputada federal mineira Duda Salabert, que tornou-se uma parceira importante.

Duda Salabert participou do programa do YouTube “Papo Natural”, onde Júlia e outras crianças entrevistam grandes personalidades da causa ambiental. Júlia também fundou o Programa “Pequenos Protetores do Planeta”, no Instagram, onde compartilha dicas simples e criativas para preservar o meio ambiente, como as “bolinhas” de sementes.

“Nem todas as crianças têm essa consciência. Elas podem ser muito consumistas”, lamenta Júlia, que tenta fazer a diferença no Colégio Santo Agostinho, onde estuda. “Somos seres inteligentes. Vamos ser a espécie capaz de salvar todas as outras e não a que causa a própria extinção”, alertou a jovem ambientalista que, entre outras crianças no mundo, foi convidada como representante da América Latina a gravar um depoimento, exibido durante a 28ª Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas (COP28), no ano passado.

Apesar dos obstáculos, como a falta de patrocínio para bancar os projetos, Júlia nunca desiste. Ela se inspira no lema “ninguém é pequeno demais para fazer a diferença”, de sua ídola Greta Thunberg, ícone mundial da juventude contra as mudanças climáticas, indicada ao Prêmio Nobel da Paz.

Graças às essas crianças, e a outros seres inteligentes como a pequena Júlia, o planeta ainda tem chance.

10 LIVROS INDICADOS PARA CRIANÇAS

1 – “Nossa Casa Está Em Chamas – Ninguém é pequeno demais para fazer a diferença”, de Greta & Svante Thumberg / Beata & Malena Ernman

2 – “Malala, a menina que queria ir para a escola”, de Adriana Carranca

3 – “Bold Women In Science” – 5 Women In History You Shoul Know, de Danni Washington

4 – “Diário de Pilar na Amazônia”, de Flávia Lins e Silva

5 –“Animal não-humano: presente! – Reflexões sobre a educação e a relação entre animais humanos e não humanos”.

6 – “Histórias de Índio”, de Daniel Munduruku

7 – “5 coisas simples que as crianças podem fazer para salvar a Terra, do The Earth Works Group.

8- “Guia para cuidar bem do “planeta”, de Patrícia Engel Secco e Jamile Balaguer Cruz

9- “Pequena enciclopédia de seres comuns, de Maria Esther Maciel

10- “#vivipraver – A história e as minhas histórias da sustentabilidade ao ESG”, de Sonia Consiglio Favaretto

7 dicas para proteger a natureza

1 - Na hora de tomar banho, ensaboar o corpo com a água do chuveiro desligada e não ficar brincando na hora do banho. Vá diminuindo o tempo até chegar a 5, 10 minutos

2 - Você pode cuidar das plantas em casa. Tenho seis plantas, dou nome para elas e cuido delas sozinha.

3 - Quando entrar uma abelha ou inseto em casa, você não precisa matar. Pode espantá-los para fora, com cuidado

4 – Ao invés de ir ao shopping, você pode ir mais para os parques e pracinhas onde tem mais verde.

5 - Desligar a televisão quando não estiver utilizando, porque gasta energia. E colocar o celular no modo avião.

6 - Escovar os dentes com a torneira fechada é muito importante. Evita desperdício de água.

7 - Pedir aos pais reutilizarem a água da máquina de lavar. E, ao lavar a louça, fechar a torneira na hora de passar o detergente nas vasilhas.

“Somos as últimas pessoas que podem nos salvar”

“Minha voz sai do Brasil para dizer ao mundo, em nome de todas as crianças e adultos brasileiros, que discursos bonitos não são mais capazes de salvar o planeta e trazer esperança.

Precisamos mostrar que o planeta precisa de governantes atentos e corajosos que enfrentem, com ações concretas, as causas da mudança climática.

A Amazônia tem papel extremamente importante para a manutenção das chuvas em boa parte da América do Sul. Ela é um bem mundial e, por isso, precisamos unir forças para mantê-la em pé e saudável.

Estou aqui para implorar que essa COP traga soluções que permitam que os adultos de hoje envelheçam com a tranquilidade de que seus filhos e netos terão um mundo mais habitável. Que eles sejam capazes de construir um futuro digno para todos. Somos seres inteligentes e precisamos provar isso.

Vamos dar um basta nas emissões de gases de efeito estufa, regenerar as florestas, permitir energias limpas e renováveis, conscientizar crianças e jovens. “Vamos ser a espécie capaz de salvar todas as outras. E não a que causa a sua própria extinção.”

(Seu depoimento na COP-28)