A condição humana segundo Dante

Il sommo poeta (“O sumo poeta”). Assim é chamado o prosador, teórico literário, filósofo e pensador político italiano Dante Alighieri. Considerado uma das figuras mais marcantes da literatura mundial, admirado por sua espiritualidade e profundidade intelectual, ele nasceu em Florença, nos idos de 1265. Foi iniciado na literatura por seu professor e filósofo Brunetto Latini, que o incentivou a ler grandes clássicos romanos de Vírgilio, Estácio e Ovídio.

Na juventude, conheceu Beatriz Portinari, uma paixão platônica e que mais tarde se tornou a principal personagem de sua obra, exaltada como símbolo supremo da graça divina.

Aos 12 anos, sua família impôs o casamento com Gemma, prática comum na época, tanto no “arranjo” quanto na idade. No entanto, um ano após o matrimônio, Beatriz morreu.

Abalado, Dante procurou refúgio espiritual na filosofia e entregou-se ao estudo de autores como Santo Agostinho, São Tomás de Aquino, Aristóteles e Lucano.

Frequentador assíduo das rodas literárias, tomou parte nas lutas políticas da cidade, principalmente contra as ambições do papa Bonifácio VIII, que pretendia dominar a cidade, apoiado no partido Guelfo Negro, contrário ao de Dante (Guelfo Branco). Com a derrota de seu partido, ele foi condenado ao exílio por dois anos e a pagar uma elevada multa em dinheiro.

Dante exilou-se e, apesar das tentativas, nunca mais voltou à sua cidade natal. Foi a sua maior tristeza. Nesse período, escreveu duas grandes obras: O Banquete e De Vulgari Eloquentia. Cinco anos depois, Dante tentou, em vão, negociar seu perdão com os políticos.

A carreira literária, entretanto, seguiu forte: foi nesse período que ele começou a escrever sua obra-prima: La Divina Commedia (A Divina Comédia), poema constituído por 100 cantos e dividido em três livros – Inferno, Purgatório e Paraíso.

A Divina Comédia tornou-se um clássico da literatura mundial e base da língua italiana moderna, mostrando-nos uma visão medieval de se entender o mundo. Ao lado do legado filosófico de Dante, que morreu vítima de malária em Ravena, em 1318, a sua obra atingiu grandiosidade de concepção, universalidade poética e influência artística.

O escritor francês Victor Hugo afirmou que o pensamento humano atinge, em certos homens, a sua completa intensidade, e cita Alighieri como um dos que “marcam os cem graus de genialidade”. Em homenagem a esse grande artista italiano, a Ecológico selecionou alguns pensamentos de Dante Alighieri e trechos de A Divina Comédia para refletirmos sobre a natureza e a condição humana. Confira:

Razão

“A razão vos é dada para discernir o bem do mal.”

“Vês que a razão, seguindo o caminho indicado pelos sentimentos, tem asas curtas.”

Inferno

“No inferno, os lugares mais quentes são reservados àqueles que escolheram a neutralidade

em tempo de crise.”

“Vós que viveis e sempre atribuís tudo o que ocorre na Terra aos movimentos celestes, como se tal movimento imprimisse em todas as coisas uma necessidade, se assim fosse, em vós seria destruído o livre arbítrio, e não seria justo que o homem tivesse por bem a alegria e por mal, a dor.”

“Portanto, para teu bem, penso e externo que tu me sigas, e eu te irei guiando. Levar-te-ei para lugar eterno, de condenados que ouvirás bradando, de antigas almas que verás, dolentes, uma segunda morte em vão rogando.”

Homem

“Quem és tu que queres julgar com vista que só alcança um palmo, coisas que estão a mil milhas?”

“O homem sábio sempre evita dizer a verdade quando ela possa parecer mentira, a fim de não ser injustamente tido por mentiroso.”

“Muita cautela e igual prudência devem ter os homens quando lidam com os que enxergam não somente as coisas, mas percebem também o que se pensa.”

Amor

“Muito pouco ama quem com palavras pode expressar quanto muito ama.”

“Pelo exemplo de Beatriz, compreende-se facilmente como o amor feminino dura pouco, se não for conservado aceso pelo olhar e pelo tato do homem amado.”

“Amor e alma gentil estão ligados, como nos diz o sábio na canção. Só pode um sem o outro ser pensado se à alma racional falta razão.”

Pecado

“A Justiça Divina pesa em balanças diferentes: os pecados dos homens dissimulados e os dos sinceros.”

“A contradição não consente o arrependimento e o pecado ao mesmo tempo.”

Amizade

“Não deve o homem, pelo maior amigo, esquecer os favores recebidos do menor.”

Medo

“Não se deve temer senão aquilo que ao próximo prejudica.”

Mundo

“O mundo é cego, e tu vens exatamente dele.”

Deus

“Contentai-vos em conhecer as obras de Deus; pois, se os homens tivessem podido conhecer todas as coisas, teria sido inútil o parto de Maria; e os vistes desejar, sem resultado, conhecer a causa das coisas, tanto que a insatisfação de seu desejo constitui, eternamente, a sua pena.”

Vida

“Em vida, eu jamais teria sido tão cortês, tal era o meu desejo de sobressair.”

“Toda erva se conhece pela semente.”

“Não há maior dor do que a de nos recordarmos dos dias felizes, quando estamos na miséria.”

Vingança

“Trazes turbado o espírito, não conseguindo entender como é possível que uma vingança justa tenha sido mais tarde justamente punida...”

Vontade

“À vontade, se não quer, não cede, é como a chama ardente, que se eleva com mais força quanto mais se tenta abafá-la.”

“Uma vontade, mesmo se é boa, deve ceder

a uma melhor.”

Julgamento

“E vós, mortais, guardai-vos de julgar.”

Fama

“A fama que se adquire no mundo não passa de um sopro de vento, que ora vem de uma parte, ora de outra, e assume um nome diferente segundo a direção de onde sopra.”